Considerações sobre o Wing Chun Kung Fu

O que é o sistema Wing Chun? Qual a sua origem? Qual é o seu real significado? Por que foi criado? Por quem foi criado? Qual a sua contribuição para o mundo em que vivemos, ou melhor, para nós, seres humanos, que vivemos dia após dia, “caminhando contra o vento” das adversidades, das mudanças, dos desafios? Certamente você, leitor, irá encontrar várias respostas para cada uma dessas perguntas, redigidas ou verbalizadas por vários mestres na prática, na aplicação desta arte única e virtuosa chamada Wing Chun Kuen (Punhos do Louvor à Primavera). Muitos destes mestres com certeza têm uma experiência muito mais vasta do que a minha na senda do Wing Chun, mas minha intenção aqui não é rivalizar ou competir com eles a cerca do conhecimento geral da arte, mas expor as minhas reflexões, as minhas próprias elucidações, baseado em minhas experiências ao longo de 12 anos de dedicação e estudo, sob a tutela de meu Mestre, Alan Rodrigues.

Nada tem significado, a não ser o significado que damos as coisas. Essa frase não é minha, e eu não sei a quem ela pertence, mas peço licença para utilizá-la como introdução às minhas considerações. Esse é o ponto-chave: o significado (valor) que o Wing Chun tem para mim, para a minha vida e para os que me cercam. Wing Chun tem valores ou significados diferentes para determinadas pessoas. A arte não é vista sob o mesmo ponto de vista por todos. O sistema contribui para a formação pessoal de cada indivíduo envolvido em sua prática, e cada indivíduo adéqua os princípios e conceitos da arte à sua vida ou adéqua sua vida aos princípios e conceitos da arte. Bruce Lee, o mais famoso de todo os praticantes de Wing Chun (embora não tenha concluído o aprendizado) definia a inteligência humana como a capacidade de adaptar-se às circunstâncias ou de adaptar as circunstâncias às suas necessidades. Com o sistema Wing Chun é assim que acontece.

Para mim, o sistema Wing Chun é uma rara e inextinguível fonte de poder. O que é poder? Poder, em minha concepção, é a junção do querer com o fazer. Quando você quer e faz, então você tem o poder para realizar as coisas. Querer não é poder, como muitos pensam, e o sistema Wing Chun, através da prática contínua de movimentos de combate corpo-a-corpo que expressam a realidade de seus conceitos, nos ensina essa verdade. Nós esquecemos o que ouvimos, lembramos do que vemos e entendemos o que fazemos. Ouvir sobre realização pessoal, querer e fazer é poder e outras filosofias e teorias, por mais bem elaboradas que sejam, cheias de frases de efeito e jargões conhecidos, não nos torna aptos a professar essas verdades. Somente quando conseguimos traduzir esses conceitos em movimentos é que somos capazes de entendê-los verdadeiramente.

É por isso que o Wing Chun é uma fonte de poder, por que nos ensina a realizar (sintetizar) através da prática. Seu estudo nos leva para muito além das teorias e dos tratados antropológicos, dos ensinamentos verbais e escritos sobre biofísica, psicologia, física quântica e etc. Que ferramenta seria mais eficiente para nos desvendar os mistérios da vivência humana do que uma ciência marcial ativa totalmente baseada no ser humano? Wing Chun foi desenvolvido na China por monges e guerreiros que eram especialistas, dentre outras coisas, em medicina, filosofia, artes cênicas, ciências políticas, guerras e conflitos, etc e tal. A lista é grande. Homens extremamente cultos, versados em diversas ciências e com grande experiência em várias áreas da existência humana deram sua contribuição para a criação do sistema Wing Chun Kuen. É por isso que eu o pratico, e aplico meu entendimento em absorver seus conceitos e métodos que, se aplicados corretamente, dão a qualquer ser humano o poder (querer+fazer) da realização.

Sifu Ricardo Coelho